sábado, julho 29, 2006

Dá que pensar...

Na passada quinta-feira, 27/07/2006, o jornal gratuito o METRO trazia este artigo de opinião de Elliot Kalan, colaborador americano, que dá muito que pensar...

AS SEQUELAS ESTÃO NA MODA

As sequelas estão na moda hoje em dia, por isso não surpreende que toda a gente tenha um título na ponta dalíngua: a III Guerra Mundial. O mundo passou décadas à esperado próximo capítulo da sua série preferida e parece que, finalmente, chegou a altura. Admito: estou entusiasmado para saber o que o deus da guerra, Marte, tem reservado para nós. Infelizmente, com uma nova guerra mundial vem também um perigo horrível e inevitável: pode ser totalmente decepcionante.

Afinal de contas, boas sequelas são a excepção e não a regra. Muitos se esquecem que a I Guerra Mundial não era para ter uma sequela, como explica o seu nome original, “A Grande Guerra”, e a sua frase-chave, “A guerra para acabar com todas as guerras” (após o sucesso da II Guerra Mundial, a frase mudou para “Veja como tudo começou”). Foram precisos 21 anos e muito dinheiro, com a Polónia, a Checoslováquia e a Columbia/Tri-Star Pictures a arriscarem a falência, ganhando o título de “O Titanic das Guerras”. Sem um génio do calibre de Winston Churchill ou James Cameron, para conseguir uma produção deste calibre, acabamos com algo como “A Guerra Fria”. Um longo fiasco com poucas cenas de acção. Desde então, os EUA têm procurado o próximo êxito de guerra, encontrando apenas escaramuças impopulares como a “Explosão Latina” dos anos 1980, ou “Explosão dos Balcãs” dos anos 1990. Estes conflitos tiveram sucesso além-fronteiras, mas nos EUA não tiveram impacto.

Agora, no Médio Oriente, temos uma guerra regional potencialmente muito boa, mas continuamos longe de um conflito global sólido. Porque, uma guerra mundial precisa de ter o mundo todo envolvido, e não apenas um par de países aqui e acolá. Só se luta num continente, enquanto na II Guerra Mundial, havia conflitos em nada menos do que quatro. Se a III Guerra Mundial servir para dar um final condigno à trilogia, vamos precisar de, pelo menos, cinco continentes, se não mesmo todos os sete. Sim, pode parecer despropositado mandar os nossos soldados para as regiões desabitadas da Antárctida, mas fará todo o sentido quando a “Marcha de Morte dos Pinguins” arrebatar os Óscares de 2015.

Mais importante ainda: vamos precisar de um enredo pelo qual se justifique lutar. A I Guerra Mundial “safou-se” com um argumento ridículo porque era novidade. A II Guerra tinha o clássico “Bem Contra o Mal”. É claro que a possibilidade de usar armas nucleares pode “tapar” um ou outro “buraco” do enredo, mas os efeitos especiais nunca podem substituir personagens credíveis. Para esta guerra fazer sentido, precisa de um sub-enredo romântico, fugas arriscadas, pequenas aparições de celebridades e, se possível, dinossauros e um alienígena adorável. Acima de tudo, precisamos que a III Guerra Mundial seja memorável. Afinal, quem não aprende com a História, está condenado a repeti-la. Seis meses depois, na HBO.

ELLIOT KALAN É CO-FUNDADOR DO GRUPO CÓMICO “HYPOCRITES” E UM DOS PRODUTORES DO “DAILY SHOW COM JOHN STEWART”. ESCREVE ESTA COLUNA DE HUMOR NO METRO EUA.

1 comentário:

Mr Fights disse...

delicioso